Cardeal Odilo Pedro Scherer, arcebispo metropolitano de São Paulo |
CEM MIL MORTES DE COVID-19
*Cardeal Odilo Pedro Scherer
Como Igreja, não estamos isentos do contágio e
participamos do sofrimento do povo no combate diário desta doença. Podemos
afirmar que demos a nossa contribuição para o enfrentamento da pandemia, quer
limitando e reduzindo a movimentação de fiéis em nossas atividades religiosas e
pastorais, para evitar aglomerações, quer colocando nossas organizações e
estruturas eclesiais a serviço dos doentes e dos pobres.
Cardeal Odilo Pedro Scherer - arcebispo metropolitano de São Paulo
No sábado, dia 8 de
agosto, o Brasil ultrapassou a impressionante soma de 100 mil mortos, em
decorrência da COVID-19, desde o início da pandemia, em fevereiro passado. Bem
entendido, trata-se apenas daqueles casos que, efetivamente, foram constatados,
mas é de se supor que podem ser ainda mais numerosos, tendo em vista que nem
todos os óbitos por essa doença tenham sido oficialmente constatados. E ainda
estamos longe do controle da pandemia, com um número elevado de vítimas a cada
dia. O número de infectados no Brasil também é impressionante e já ultrapassa
os 3 milhões. Ainda bem que a maioria dos que se contagiaram com o vírus não
enfrenta consequências especialmente graves e já recuperou a saúde.
O novo coronavírus
não poupa ninguém e todos estão sujeitos a contrair a doença. A duras penas,
estamos aprendendo muita coisa sobre o vírus e sua atuação, e já estamos em
condições melhores para a prevenção contra o seu contágio. É verdade, porém,
que a vitória sobre a doença só virá com uma ou mais vacinas eficazes contra os
efeitos do vírus e com medicamentos que curem efetivamente quem a contraiu.
Graças a Deus, a ciência faz o seu trabalho e há esperanças fundadas de que, em
breve, haverá vacinas à disposição, o que será um grande alívio para a humanidade.
No entanto, a
vacinação deverá ser ampla e alcançar a população inteira, para prevenir contra
o risco de contágio, uma vez que o vírus, ao que tudo indica, será nossa
companhia incômoda daqui por diante, por muito tempo. Não é meu propósito fazer
aqui considerações sobre os erros e acertos no enfrentamento da pandemia. É
inegável que alguns países conseguiram enfrentar melhor que outros esta
emergência sanitária; e os que não levaram devidamente a sério, desde logo,
este grave problema, amargam agora as consequências e devem assumir sua
responsabilidade. Será que, no Brasil, o enfrentamento da pandemia foi
adequado, até agora, em toda parte? Somos uma população numerosa e temos um
território continental, o que explica, em parte, o elevado número de vítimas e
a lentidão na superação da pandemia. Não explica tudo, no entanto, e,
sobretudo, não alivia a dor de quem foi duramente atingido. E teremos
consequências sociais e econômicas graves por muito tempo.
De nossa parte, como
Igreja, não estamos isentos do contágio e participamos do sofrimento do povo no
combate diário desta doença. Podemos afirmar que demos a nossa contribuição
para o enfrentamento da pandemia, quer limitando e reduzindo a movimentação de
fiéis em nossas atividades religiosas e pastorais, para evitar aglomerações,
quer colocando nossas organizações e estruturas eclesiais a serviço dos doentes
e pobres, que aumentaram muito desde a manifestação do vírus em nosso País. É
considerável o volume de assistência diária das iniciativas das organizações
eclesiais aos necessitados. E, daqui por diante, quando já se começa a entrever
uma certa melhora na emergência sanitária, qual será a atitude da Igreja em São
Paulo? Nossa atitude continua sendo a da prudência, sem descuidar nada das
recomendações das autoridades sanitárias. Mesmo que os hospitais e os centros
de terapia intensiva já não estejam mais tão cheios, ainda estamos longe de ter
superado os riscos. E a conhecida “segunda onda” pode estar à espreita e atacar
a qualquer momento. Portanto, mesmo se retomamos aos poucos o atendimento das
pessoas em nossas igrejas, expedientes paroquiais e iniciativas pastorais, isso
requer que mantenhamos alta a vigilância e continuemos a ajudar a população, de
muitas maneiras, a fazer o mesmo.
Por outro lado, as
consequências da pandemia continuarão ainda por muito tempo, antes que seja
superada a crise econômica que ela desencadeou, causando pobreza e sofrimento
para muitos. Todas as nossas organizações eclesiais continuarão empenhadas na
atenção aos pobres e na prática da caridade e das obras de misericórdia. Nossas
comunidades e organizações precisam, no entanto, ser sinais de alento e
esperança para todos, passando às pessoas a certeza de que Deus olha para seus
filhos e não os abandona em meio aos seus sofrimentos e angústias. A acolhida
do povo em nossas igrejas e espaços de atendimento religioso, com os cuidados
recomendados, ajudará a nutrir a fé e a esperança, tão necessárias neste tempo.
Fonte: O São Paulo com redação Boa Notícia PB
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