Os 250 anos da Matriz – O Relógio da Matriz
Contar os dias e as horas é percepção
e necessidade dos humanos. Sentir que a vida humana e seus acontecimentos
estão imersos no ritmo do tempo que por si mesmo faz algumas coisas
permanecerem e outras transformarem-se. Na história do Ocidente cristão,
nossas vilas e cidades foram notadamente marcadas pela presença dos relógios
públicos; em geral, de iniciativa da Igreja Católica em seus organismos
diversos, como os mosteiros, as matrizes, os colégios.
Hora do trabalho, hora da oração,
hora do lazer, hora do descanso. Com o advento da Modernidade, os velhos
relógios foram bem utilizados no processo de desenvolvimento e expansão das
cidades, uma vez que se tornou imperativo a racional utilização do tempo para
os ditames do progresso e da produtividade. Sem relógios visíveis e bem
regulados o mundo padeceria no atraso, conforme a concepção da eficiência e do
trabalho.
No próximo dia 08 de dezembro a Matriz celebra 250 anos |
Assim deu-se a chegada do relógio da
Matriz em Campina Grande. A Igreja Matriz, totalmente reconstruída a partir de
1887 pelo engenho do Monsenhor Sales, carecia desse equipamento e valor bem no
alto de sua imponente torre.
No ano de 1891, a crise política na
recente república brasileira destituiu os Conselhos de Intendência nos
municípios. Em Campina Grande, os intendentes Cristiano Lauritzen, Belmiro
Barbosa Ribeiro e Ildefonso de Brito Souto Maior, decidiram empregar o saldo
sob sua administração numa obra de interesse público. A doação tinha um fim
especifico: aquisição na Europa de um relógio moderno com mostradores e provido
de carrilhão, o qual deveria ser colocado na torre esquerda da igreja,
direcionado para a parte sul da cidade com maior habitação e residências.
Dessa maneira, o Vigário Sales
encomendou o relógio na Alemanha e intensificou as obras de levantamento das
torres, que somente ficaram concluídas, como as vemos hoje, em meados de 1896.
A inauguração do relógio aconteceu em 16 de agosto, trazendo a população
campinense ao largo da Matriz, onde curiosa, ouvia atentamente o girar dos
ponteiros e as primeiras pancadas.
O citado relógio trabalhou durante
décadas, sendo o principal orientador dos moradores da cidade. Por ele
foram regulados os relógios particulares, de bolso e de parede, e por ele se
guiaram os mais humildes do povo. Os que não tinham relógio, para evitar o
inconveniente de atrasar os mais apressados para seus afazeres e negócios,
perguntando-lhes a hora, recorreram ao relógio da Matriz, sinal
de que os homens todos são provisórios por mais nobres que pareçam suas
múltiplas atividades.
Elpídio de Almeida, na obra História
de Campina Grande (1962) observou a sua paralisação num dado instante
e sugeriu que por ocasião do centenário da cidade, este instrumento que tanto
servira aos campinenses jamais poderia ficar abandonado, esquecido ou inútil.
Embora já dispensável os seus serviços, tratava-se muito mais de um símbolo,
permanência de um significado. Diz-nos o mesmo autor, que das “raras relíquias
vindas do século XIX, sobreviveu o relógio”.
Para celebrar os 250 anos da Igreja
Matriz, o relógio não pode e não deve deixar de contar o tempo. Precisamente
agora, momento este que nos lembrará das sagradas horas do dia oito de
dezembro, solenidade da Imaculada Conceição, ocasião em que ritualmente
faremos memória deste marco fundacional de nossa cidade.
Pe. Luciano Guedes
do Nascimento Silva
(Pároco da Catedral
e Vigário Geral)
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