segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Luto pela perda gestacional não deve ser subestimado, alerta especialista

Raíssa:"saber se o bebê já tinha um nome"

A perda pela morte de um filho antes do nascimento é dolorosa. Embora seja ignorado por muitos, o luto gestacional não deve ser subestimado, pois a dor é igual à de uma mãe que perde um filho depois que ele nasceu. 

A psicóloga Raissa Nóbrega, do Hapvida, sublinha que, segundo a literatura, a perda gestacional é vista como um luto não reconhecido nem trabalhado no contexto hospitalar como também pelos familiares e amigos. Para a especialista, é importante que o trabalho de reconhecimento dessa perda se inicie desde a época que vai ser repassada a informação ainda no hospital sobre a morte do bebê.

“Muitas vezes a forma como o profissional passa a notícia daquela perda, daquele luto é, muitas vezes, fria pela praticidade, trabalho, tempo e não reconhece a perda. Então, a gente sugere que o processo de formação desse profissional, essa habilidade de relacionamento com outro o ser humano, seja iniciada desde a  graduação dele e que  possa reconhecer que ali havia de fato um filho”, aconselha a psicóloga.

Raissa Nóbrega alerta que não se deve agir em relação à mãe ou pai enlutados, como se nada tivesse acontecido. Outro aconselhamento é saber se o bebê já tinha um nome. Em caso afirmativo, refira-se a ele pelo nome ao manifestar seus sentimentos e não pelo feto ou natimorto para que seja reconhecido o lugar daquele filho.

“A partir do momento em que a mulher recebe o resultado positivo da gravidez, ali já se inicia o processo de construção não só filho, mas a construção da mãe também. Naquele instante,  começa o amor, todas as expectativas, projeções os planos em cima daquela criança. A depender de quando essa perda aconteceu, já vão existir roupinhas compradas, projetos e quarto do bebê vai estar pronto. Então, é preciso reconhecer a perda da mãe e também quem está envolvido neste luto. O pai é muitas vezes deixado de lado”,

A especialista lembra, que nos dias de hoje, o pai cria vínculos e está  cada vez mais presente na criação. Para Raissa, essa rede de apoio tem que ser dada a todos os familiares que estiverem neste processo de elaboração desta perda.

Superação do luto - Para Raissa Nóbrega, o luto gestacional para ser superado primeiro tem que ser revelado e conhecido que houve uma perda de fato. “Que essa perda não seja negligenciada. A mãe se prepara para ter um filho e não para perder o filho. A mãe não é preparada para sair da maternidade sem o seu filho”, esclarece.

Os familiares, acrescenta, devem ter cuidado com a forma que vão abordar a mulher, principalmente para não depositar nela a culpa pela perda da criança. Eles também devem respeitar a vontade dos pais em fazer o funeral como  fosse de uma criança já nascida.
Outras recomendações são evitar culpar a mãe,  a equipe médica, o hospital, a forma de parto escolhido ou qualquer coisa que só agrava o sofrimento, além de não dizer  para a mãe ou pai que eles têm que superar rapidamente. É fundamental que o casal tenha seu tempo de luto.

“Esse luto tem que ser elaborado para que a mãe não venha a sofrer, muitas vezes, um quadro de ansiedade, depressão, estresse pós-traumático que pode ser desenvolvido a partir do momento que negligencia a própria dor”, destaca Raissa.

Se a mãe não recebe o apoio familiar, percebe sua dor não é reconhecida e começa a trabalhar no dia seguinte até porque não tem licença-maternidade.  “Começa muitas vezes a querer engravidar de forma repentina sem ter aquela elaboração ou então a criar traumas para não querer engravidar nunca mais. Por outro lado,  quando engravida fica aquele cuidado excessivo não só na gestação, mas sobretudo com a criança após o nascimento que pode gerar prejuízos para a criação”, conclui a psicóloga.



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Por: VANILDO SILVA COM ASCOM
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